
Mas não é verdade. Há um assunto urgente, importante e inadiável que é preciso abordar. Então não é que estão a desmanchar o Avião? Esse ponto turístico emblemático da cidade de Lisboa?
Para os mais distraídos (ou moradores da Brandoa - mudámos de embirração), o Avião era aquele local de entretenimento nocturno, onde qualquer pato-bravo da construção civil podia ir relaxar na companhia de meninas oriundas de países exóticos e talvez isentas de doenças venéreas.
O seu ambiente selecto. A qualidade dos espectáculos e sobretudo a localização privilegiada do empreendimento - no meio de vias rápidas ali perto do Aeroporto - faziam do Avião uma paragem obrigatória para turistas demasiado pobres para ir até à Tailândia em busca de prazer efémero a troco de dinheiro.
O seu dono acabou por ter uma morte digna de um filme do Paul Verdhoeven (Brandoa: com grandes explosões) e o empreendimento faleceu também. Ora, sem o Avião onde vai o Funcionário Público com fetiche por saltos altos libertar a sua tensão? Onde vai o Engenheiro Informático sado-masoquista? Onde vai Portageira que gosta de ser tratada por Mário Rui?
Eu respondo: para as nossas ruas. Vão perseguir colegiais de calça justa e umbigo de fora. Vão tornar-se ainda mais imbecis no trânsito. Vão olhar para os decotes em vez de olhar nos olhos das interlocutoras. Vão para casa gastar dinheiro em chamadas de valor-acrescentado ou pior ainda, vão começar a ter sonhos eróticos com a vizinha do andar de baixo que posso ser eu, vocês ou mesmo as vossas primas da terra que têm buço!
Com tantas petições que para aí andam, faça-se já uma para reabrirem o Avião! Com a velocidade com que resolveram destruir aquele, qualquer dia ainda se lembram de transformar o Terreiro do Paço em centro comercial ou deitar abaixo a Torre de Belém! Vamos preservar o que a nossa cidade tem de melhor! E sobretudo vamos dar um porto de abrigo àqueles senhores com barriga e unha do dedo mindinho crescida que também precisam de amor e muito álcool no sangue para chegarem a casa e darem uma bofetadazinha ou outra nas esposas por elas não serem como a Rosineide Nordestina.