Humor de Casa-de-Banho

Há dias observei uma cadeira num transporte público que tinha escrita a famosa citação de Fernando Pessoa: «O poeta é um fingidor. Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente». Nesse dia fiquei revoltada. Não por um qualquer vândalo urbano ter conspurcado a cadeira que serve o bem de todos, nem tão pouco por ter usado as palavras do Grande Poeta para o fazer, mas porque traiu toda uma tradição de vândalos do mobiliário urbano!

Já não nos bastava ter que aturar alunos de secundário que se recusam a entregar telemóveis aos professores, como agora temos que lidar com vândalos sensíveis que usam poesia! Onde é que andam as «Cátia Vánessa amote bués»? ou «Grande mangalho satisfaz em todo o país»? Onde é que isto chegou? Será este o declínio da civilização? Qualquer dia vamos à casa-de-banho de uma estação ferroviária e somos forçados a ler o quê? Obras diversas das irmãs Brönte? Pinturas neo-realistas? Que pouca-vergonha vem a ser esta?

Se isto continua assim, um dia vamos a passar por uma obra e os trolhas decidem ignorar os nossos atributos físicos, enquanto numa reunião de negócios nos arriscamos a ouvir: «ó querida, com um par de trancas dessas, admiro-me que ainda não te tenham arrombado a fechadura».