Fundo da Alma

Há uma coisa engraçada acerca da escrita. Quando se lê mais tarde o que se escreveu, pode dar lugar a grandes revelações. Epifânias. Tomadas de consciência. Ou profunda perca de tempo. Aconteceu-me há dias com a lista do supermercado.

Sou uma pessoa organizada, admito. A organização é para mim quase uma arte. A minha lista de supermercado é profundamente epifânica... revela (ou assim pensava eu) muito sobre mim. E que melhor lugar que um blog para expor ao mundo a minha lista de supermercado?

Há gente que gosta de expor a sua vida íntima, outros que preferem dedicar-se à filosofia, poesia, engate e à troca de receitas culinárias - arte que ando a ver se repudio enquanto a tensão arterial não regressar da estratosfera. Mas eu não, eu cá gosto de expor a minha lista de supermercado! É de resto por isso que participo neste blog. Aqui descubro se preciso de agriões, ou se tenho que comprar cotonetes ou arroz agulha ou pastilhas 4 em 1 para a máquina da louça. E pasta de dentes branqueadora. E lenços de papel para o carro. Não imaginavam, pois não? É uma espécie de terapia...

Estou nestas considerações quando me apercebo da quantidade de items que tenho que eliminar da dita lista. Adeus Manchego, adeus bolachinhas Lu, adeus fois-gras de ganso! Foi uma revelação que nenhum terapeuta credenciado poderia antever!

Imaginam agora a indignação que senti? Pensar que há pessoas que são capazes de escrever sobre tudo o que lhes passa pela cabeça e não reparam que acabou o papel higiénico!?

Posto isto, a partir de hoje, em protesto pelas coisas ocas que se escrevem por aí, vou privar-vos da minha lista de supermercado. E se isso me custa... oh, céus!