A.T.L.

Fiquei sempre confusa sobre o significado de A.T.L.. Ouvia os meus sobrinhos contar que tinham tido esta e aquela actividade no ATL, mas exibia sempre um sorrisinho comprometido, como se quisesse dizer «sei perfeitamente ao que te referes», mas não. Porque tal como toda a miudagem da minha altura, eu passava os meus tempos livres a brincar na rua - onde se podia brincar com cães vadios sem apanhar escorbuto, alergias, pedófilos e facadas nas costas. E não tínhamos telemóveis. Bastava um grito da mãe ou da avó e lá ia a malta toda suja a correr para o jantar ou para o banho - dependendo do grau de imundice da nossa fatiota (uma ou outra palmada também fazia parte do cardápio, se o atraso ou a sujidade a isso obrigasse).

Mas hoje, graças ao progresso, a malta mais pequena pode ir para o ATL e eu, finalmente descobri do que se trata! E descobri ontem na SIC, numa notícia que dava conta que, no meio de bonecas de trapo, cozinhas de plástico, berços, carrinhos e jogos de construções de um ATL, descobriram uma pistola e algumas navalhas! Então é isso que ATL significa! Aulas de Tiro Livre! Juntamente com o jogo da malha, do mamã-dá-licença, também se pode jogar ao homicídio involuntário, ao atentado contra pessoas e bens e à chacina indiscriminada de inocentes!

Bolas! Que bom! Agora já sei o que fazem as nossas crianças enquanto estamos no trabalho: aprendem formas de nos liquidar para garantirem que, quando chegarem à reforma, a Segurança Social lhes paga a pensão de invalidez.