Shut Up And Funk Me!

Auto-estima não é um stand de automóveis (fornicar também não). É algo que alguém inventou para nos dar mais ou menos ânimo, de acordo com as circunstâncias. Não me parece que exista uma única alma no mundo que consiga equilibrar este conceito durante todos os dias da sua vida. A menos que sofra de outras patologias que, no caso, não me sinto preparada para analisar.

Isto vem a propósito do puré de batata. Fascina-me o puré de batata – batatas desfeitas da sua forma, consistência e se quisermos, objectivo. Ora um tubérculo deve ter os seus dias mais negros. Seja novo ou velho. Seja doce. Mas quando confrontada com a sina de se transformar em puré, não me parece que exista uma única batata que não se questione «e é para isto que passamos tanto tempo debaixo da terra… com a breca!» (as batatas são bastante educadas. Nunca ouvi um palavrão na boca de uma batata).

E neste momento preocupa-me imenso a auto-estima das batatas. Como a daquela com quem saí há uns tempos. O pobre batata queixava-se da falta de amor – coitado, nem para puré servia de tão destroçado que estava. A namorada, dizia ele entre soluços, era uma daquelas sobredotadas que conseguia fazer mestrados e trabalhar e escalar montanhas e natação e mais não sei quê. Sentia que estava frito. E por muito que fizesse, nunca estava à altura dela. Ora eu não sou psicóloga, mas como imbecil, perguntei-lhe a certa altura se aquilo era uma questão de competição ou se ainda gostavam um do outro. A vida é muito mais que rodelas. Ao que ele respondeu:

- Não estou habituado a isto, Lu. Antigamente elas ficavam em casa à nossa espera e ficavam felizes se uma ou duas vezes por mês saíssem com o grupo de amigas. Agora sou eu que fico à espera dela. E se não são as reuniões, são os jantares, as apresentações e já para não falar nos lugares de chefia…

Suspirei. Pobres batatas, não receberam o memorando. Tudo mudou, claro que sim. Por isso é que se calhar, andam por aí tantas batatas aos palitos…